Narrativa de ficção

Amor Digerido

Conto psicológico- microconto

Paira no ar um perfume extemporâneo amor e calidez mesclado à fúria das marcas vermelhas em seu pescoço esguio…

E nos amávamos há mais de dois anos. Um amor puro, amor casto. Sempre nos finais de semana nos reuníamos junto a seus pais, avós e irmãos. Nunca ficávamos sozinhos.

Neste domingo foi-nos permitido sair sem companhia. Andamos tanto pela cidade, lanchamos em uma confeitaria tradicional. As pessoas nos olhavam com inquietude e estranheza. Éramos tão jovens e tão fortes.

O amor que nutria nosso mundo era perfumado. Nossos olhares de almíscar eram ternos aveludados. Meu olhar pra ela era água fresca sempre vertente em minha boca. Era tudo tão belo e colorido que a tudo queríamos tocar.

Nossas mãos trêmulas de brisa bem trançadas, as pernas soltas de passadas sem rastros. Fomos à praia. Era tanto amor, nossos corpos se encostavam entre faíscas e maresia. Nos molhamos de céu e paraíso e deitamos.

Meus músculos retesados dentre espasmos nervosos… Eu não pensava e tudo se passava sem pegadas… Um vazio emudecido, uma eternidade surda de instante… Deu-me um branco, uma inconsciência, um apagão… … …

… … … … … … … … …

Fernanda de pernas afastadas entre si. O desejo coagulado na maçã das faces. Um hálito na boca de beijos ainda na mornidade do silêncio. Olhos cristalizados de retina orvalhada de brilho lacrimal. Os cabelos sedosos misturados à salobra areia. O sal do corpo de suór oceano. Braços abertos, a rigidez tangente e côncava dos seios cúmplices.

No vértice do jardim um orvalho doce de rosas brancas descia em gotículas na argamassa dos finos grãos sob seu corpo. A pele crespa de arrepios de intantes de perto. Resquícios de cetim de pele ocultos em suas unhas arredondadas de juventude.

Nos lábios enbranquecentes um murmúrio coalhado de pétalas vermelhas inauditas no curso congeladas… Palavras interrompidas murmúrio de rios soterrados de um tempo já sem tempo.

Paira no ar um perfume extemporâneo amor e calidez mesclado à fúria das marcas vermelhas em seu pescoço esguio…

… … … … … … … … …

… … … Eu a estrangulava…

luizbucalon

Interpretação

O conto apresenta uma narrativa ambígua e perturbadora, construída sobre a dicotomia entre um amor idealizado e uma violência inesperada. A primeira parte pinta um quadro idílico de um casal jovem, apaixonado e casto, em um ambiente familiar e protegido. A linguagem poética e as descrições sensoriais intensificam a atmosfera de pureza e inocência.
No entanto, a narrativa sofre uma brusca ruptura quando o casal se isola e a paixão se transforma em violência. A elipse no meio do texto, marcada por reticências, intensifica o choque e a sensação de irrealidade. A segunda parte descreve a cena do crime com detalhes gráficos, contrapondo-se à beleza e à leveza da primeira parte.

Análise

— Uma análise profunda da psicologia de um personagem que se transforma de amante apaixonado em assassino cruel.

— Um conto que explora os limites entre o amor e a violência, revelando a fragilidade da natureza humana e a perversidade que se esconde por trás da beleza.

— Uma narrativa perturbadora que questiona os conceitos de amor, paixão e pureza, através de uma história de amor que termina em tragédia.

— Um conto que utiliza a linguagem poética e as descrições sensoriais para criar uma atmosfera de tensão e suspense, culminando em um final chocante.

Observações

— A narrativa apresenta uma forte carga simbólica, com elementos como a natureza, o corpo e o tempo sendo utilizados para representar diferentes aspectos da experiência humana.

— A ausência de um desfecho claro e a ambiguidade da narrativa convidam o leitor a construir suas próprias interpretações.

— O conto levanta questões importantes sobre a natureza da violência, as relações de poder e a fragilidade da vida humana.

Temas para Análise

— A representação da violência na literatura.
— A relação entre amor e morte.
— A construção da identidade feminina na narrativa.
— A função da linguagem poética na construção do suspense.
— A importância da elipse na narrativa.
Recomendações:
— Analisar a relação entre a primeira e a segunda parte do conto.
— Identificar os símbolos presentes na narrativa e seus significados.
— Pesquisar sobre outros autores que exploraram temas semelhantes.
— Comparar o conto com outras obras da literatura brasileira contemporânea.

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Luiz Carlos Bucalon, nasceu em 12 de março de 1964, na cidade de Maringá-Pr. Em 1980, lançou, em edição independente, o seu primeiro livro de poemas, "Câncer Amigo". Seguiu escrevendo poemas, crônicas, contos, ensaios, teatro, humor, biobibliografias e romance. Foram trinta e quatro títulos publicados, pelo então poeta marginal -- contemporâneo a Paulo Leminnski e outros expoentes. Bucalon, além de escritor e editor, foi também declamador, palestrante e divulgador de sua própria obra, de cidade em cidade, no Brasil e na Argentina. Seu mais recente livro, "Só Dói Quando Respiro", de poemas, é de 2021, publicado digitalmente em formato e-book. Obras (muitas também em espanhol) - Poemas: Câncer Amigo, A Palavra é um Ser Vivo, A Corsária e o Vento Santo, Roda Viva, Madá Madalena, Novas Asas, Um Lapso no Tempo, Uma que não vejo, Outra que não toco, Poema a Quatro Mãos (com Nice Vasconcelos), Escrever é coisa de louco, Bailarina Madrugada, Poeta de Ruas e Bares, Poemarte, Na Barra de Santos, Era eu naquele quadro, A Rosa e o Espinho, Dia Noite e Chuva Por onde Andaluzia, Poeta Cigano, Rodoviárias São Corredores, A poesia diz rimada, Poesia Presa no Espelho, Poema se faz ao poemar Poesia líquida é música. - Romance, conto, teatro, ensaio, crônica: Em Busca do Amor, Lânguida e Felina, O Globalicídio Brasileiro, A Semente do Milagre, Mártires da Imortalidade, A vida entre outras coisas, A Praça da República, O Banco da Praça, Ali Naquele Bar. Saiba na página Home.

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