Narrativa de ficção

Perdoe-me, por me traires

Conto erótico psicológico

Hummm… que abraço foi aquele?… apertado… quente… até senti o… Que calor Deus meu…

Jeferson, trinta e cinco anos, era dono de uma revendedora de automóveis, usados.Tinha uma casa boa, muito bem situada na cidade. Ele vivia muito bem. Casado, há onze anos, com Madalena, seis anos mais jovem. Madalena, mais que uma bela mulher, era apaixonadissima, desde o namoro, e motivo de muito orgulho a ele. Alta, pernas bem torneadas. Os cabelos longos e negros, alcançavam-lhe a cintura. Os olhos, castanho-escuro, eram grandes e vivazes. A pele clara, de um macio acetinado. Na verdade, era toda ela, esculpida à mão, com todas as curvas e protuberâncias que lhe cabiam. Os seios medianos, fazendo o contraponto perfeito, com os glúteos, salientemente redondos. Um espetáculo de mulher, ou se preferir, um prato para muitos talheres. E, reitero, loucamente apaixonada pelo marido. Todos que a conheciam, o sabiam: ali não tinha pra mais ninguém.
Jeferson, contra todas as provas de amor e respeito, dadas por ela, parecia procurar por algo que desabonasse, que estremecesse, a fidelidade de sua linda e recatada esposa. Não foram poucas as vezes que, ele, em seu carro, à distância, perdera horas a sondá-la. E ela, como esposa dedicada e amante desejante, cada vez mais entregue ao seu marido.
Num belo fim de tarde, quase ao anoitecer, Jeferson, chega em casa acompanhado por um amigo. Ele o apresenta a ela. Pedro, o rapaz, por volta dos vinte e dois anos, era um belo espécime masculino, alto, forte, a voz grave, os olhos verdes, e os cabelos fartos. Madalena, ainda sem saber porque, não havia simpatizado com o tal Pedro. Mas, por ser convidado do seu marido, tentou ser simpática e hospitaleira.

— Pedro, é um meu funcionário. Seu apartamento está em reforma, por essa razão, ele terá que passar, uns dias, em nossa casa. Podemos arrumar um quarto pra ele? — Disse o marido, com a maior naturalidade.

— Tudo bem, meu amor! Eu vou preparar — disse ela, prontamente, ao baixar a cabeça, diante do olhar insistente, do rapaz.

Os dois homens a observam, calados, enquanto ela se afasta. “Esta mulher é demais!”, pensa, o convidado.
Os dias, foram se passando, e Madalena, se esquivando das insinuações e investidas do jovem. A cada dia, ele estava mais íntimo da casa, andando sempre mais à vontade. Madalena sentia-se, a cada dia, uma poucos mais ultrajada, em seu brio de mulher. Seu marido, sempre saindo de casa, por um motivo qualquer, a deixava a sós com o amigo.
Madalena não queria reclamar para o marido, afinal, era seu amigo e funcionário, e não queria incomodá-lo.

— Desculpe, Madalena — dizia Pedro, ao roçar-se em suas nádegas, quando passava pela cozinha.

Assim se passavam seus dias… Na sala, ela o encontrava esticado no sofá, mostrando sua ereção. Às vezes, ele distraído, saía de cueca para o corredor. Outro dia, só de toalha, entrou no quarto do casal.

— Escuta Pedro, você não acha que já está sendo desrespeitoso demais? O que é que você quer nesse quarto? — Disse Madalena, colocando o vestido às pressas. Os olhos arregalados.

— Desculpe-me, eu não sei o que deu em mim. Mas, confesso, ver você assim, toda gostosa, todos os dias… … … — falou, correndo os olhos nela, da cabeça aos pés.

— Desculpe, não. Você, sabe muito bem, que está me desrespeitando, e não é de hoje. Saiba, eu só não falei tudo ainda pro Jeferson, em respeito à amizade de vocês — disse ela. A boca seca, as mãos tremendo.

— Perdão. Você me perdoa? — disse ele, prendendo a toalha à cintura.

— Que isto, jamais se repita. Está me tirando por desqualificada? — Abriu a porta, sinalizando para a saída. Um estrondo na porta, a seguir.

Outros dias se passaram, tranquilamente. Ela, não se vira livre ainda, era dos olhares dele, a despindo, mesmo às barbas do marido. Dia 13 de agosto. Madalena completava trinta anos. Pela manhã, logo à saída do marido, ela é surpreendida por Pedro. Ele, sorrindo docemente, a entrega um enorme buquê de rosas vermelhas, úmidas, pareciam ainda orvalhadas. Ela ergue os olhos, lacrimados, e o vê, como um menino, de braços abertos para o abraço. Ela o corresponde, ele a aperta.

— Você foi o primeiro a lembrar… Eu nunca recebi tantas, nem tão belas flores — disse ela, secando os olhos com a ponta dos dedos. Abriu o cartão, com a seguinte mensagem: “Meu amor, você é mais que uma simples mulher. Você é minha diva, minha deusa!” Assinado: “Pedro Dias Antunes.”
Passou o dia todo e, seu marido, nada de aparecer. Lá pelas dezoito horas, manda um entregador, com o presente de aniversário. Era um conjunto de lingerie vermelha. Ele, mais tarde, por telefone, avisou que não chegaria a tempo, para o jantar.
Nove horas da noite, Madalena, à mesa, na companhia de Pedro. Conversaram um pouco e riram muito. Ela já não sentia aquela mesma antipatia de dias atrás. Por sugestão dele, brindaram com algumas taças de vinho. Madalena, é novamente abraçada, à porta de seu quarto. Pedro, segue para os seus aposentos. Na cama, solitária e sob o efeito do vinho, Madalena repassa seu dia. Hummm… que abraço foi aquele?… apertado… quente… até senti o… Que calor Deus meu…, murmurava ela, os dedos a percorrerem-lhe o corpo, as cavidades…

— Pedro, o que você deseja para o café da manhã? Eu preparo para você! — diz Madalena a sorrir. A tristeza nos olhos.

— Eu, como do que você fizer para o Jeferson — disse ele, percebendo uma bolsa sob os olhos de quem teve uma noite de insônia.

— Ele, é o de sempre. Já você, não sei do que gosta — falou decidida. O humor péssimo.

Ela começou tratar o rapaz preferencialmente. Quando ele chegava, levava toalha e roupas limpas, para ele. Perguntava o que gostaria de comer, nas refeições. Arrumava sua cama, o quarto. Até passava suas roupas. Assim, fora aos poucos, transferindo o tratamento, antes privativo, ao esposo, para o amigo. E os abraços iam se repetindo…

Numa bela noite, Jeferson já tinha se recolhido, e à espera da esposa, pegou no sono. Madalena, subiu as escadas. Estacou diante da porta, onde seu marido dormia. Pensou… pensou… pensou… apertava os dedos contra a palma da mão… leves batidinhas com os pés no carpete… o dedo na boca, tipo menina curiosa, a imaginação fértil… Enfim, seguiu para outra porta. Entrou, despiu-se e se aninhou. De madrugada, o marido acorda espantado com uma gritaria. Ele apurou os ouvidos… A voz, era de Madalena, os uivos, vinham do quarto ao lado. “Eu sabia… Mas o que ela pensa que está fazendo? Vou lá, agora, acabar com essa putaria, ah se vou”, assim pensou ele. Ao sair para o corredor, os sons se tornaram mais nítidos. Sua mulher estava chorando nos braços de Pedro. Era puro prazer! Jeferson colou o ouvido à porta. Agora ouvia até o que falavam entre si. Abriu uma frestinha. Visualizando, sua esposa de quatro sobre a cama e, o amigo, a movimentar-se, com violência, por trás dela.
Pela manhã, tudo normal. Ao que parecia, nada havia acontecido. Madalena servia o café, os dois homens sentados à mesa. E todas as noites, a partir de então, Madalena dirigia-se para o outro quarto. E a porta, bem, a porta já permanecia aberta.

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Luiz Carlos Bucalon, nasceu em 12 de março de 1964, na cidade de Maringá-Pr. Em 1980, lançou, em edição independente, o seu primeiro livro de poemas, "Câncer Amigo". Seguiu escrevendo poemas, crônicas, contos, ensaios, teatro, humor, biobibliografias e romance. Foram trinta e quatro títulos publicados, pelo então poeta marginal -- contemporâneo a Paulo Leminnski e outros expoentes. Bucalon, além de escritor e editor, foi também declamador, palestrante e divulgador de sua própria obra, de cidade em cidade, no Brasil e na Argentina. Seu mais recente livro, "Só Dói Quando Respiro", de poemas, é de 2021, publicado digitalmente em formato e-book. Obras (muitas também em espanhol) - Poemas: Câncer Amigo, A Palavra é um Ser Vivo, A Corsária e o Vento Santo, Roda Viva, Madá Madalena, Novas Asas, Um Lapso no Tempo, Uma que não vejo, Outra que não toco, Poema a Quatro Mãos (com Nice Vasconcelos), Escrever é coisa de louco, Bailarina Madrugada, Poeta de Ruas e Bares, Poemarte, Na Barra de Santos, Era eu naquele quadro, A Rosa e o Espinho, Dia Noite e Chuva Por onde Andaluzia, Poeta Cigano, Rodoviárias São Corredores, A poesia diz rimada, Poesia Presa no Espelho, Poema se faz ao poemar Poesia líquida é música. - Romance, conto, teatro, ensaio, crônica: Em Busca do Amor, Lânguida e Felina, O Globalicídio Brasileiro, A Semente do Milagre, Mártires da Imortalidade, A vida entre outras coisas, A Praça da República, O Banco da Praça, Ali Naquele Bar. Saiba na página Home.

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