Narrativa de ficção

Nossos ardentes devaneios

Romance Erótico – Prosa

De caminhadas lado a lado entre falas e risos abertos e descomprometidos passaram a sussurros e diálogos velados em encontros furtivos

Larissa cogitava casamento, nem que fosse fugindo para o exterior.

Naquele dia recebi uma ligação de Cassandra. Ela estava com a voz pastosa já devia estar um pouco alta. Acho que passava das vinte e duas, e ela dizendo de chofre que estava nua na banheira tomando champanha. Estava afoita para dar, pegando fogo no baixo ventre, ela queria transar e foi muito direta no convite para que eu fosse até ela.

Declinei ao convite dizendo que não seria apropriado já que eu estava conhecendo uma moça e… “tudo bem” a contragosto ela interrompeu. No outro dia tornou a ligar elogiando-me pela atitude, ao que respondi dizendo para dizer isso à moça e ela prontamente pediu o telefone para comunicá-la.

Fiquei com Larissa de um modo um tanto quanto inusitado porque muito improvável; nos conhecemos assim meio ao acaso, a vi e a achei especial, portadora de uma beleza clássica dentro daquele vestido de festa. Nos cumprimentamos e arrisquei saber mais sobre ela, fui sincero na demonstração de interesse pela sua vida. Fui perguntando aos poucos, um fato por vez explorando ao máximo cada resposta de modo a impedi-la de responder numa só frase.
Bem, outro dia e Larissa fala-me ao telefone para saber de mim. Conversamos sobre amenidades e marcamos um café para o dia seguinte. Assim seguiram-se outros encontros por qualquer motivo ou mesmo sem motivo algum.
Até aí nunca esperei que algo mais acontecesse até que um dia ela perguntou-me se eu já havia me relacionado com uma mulher mais jovem, respondi-lhe que sim e que achava tudo muito normal. Desse momento em diante nossas conversas tomaram outro rumo. De caminhadas lado a lado entre falas e risos abertos e descomprometidos passaram a sussurros e diálogos velados em encontros furtivos e frequentemente frementes. A cada encontro uma nova aventura de risco, sim de risco e eu explico: seu pai mantinha uns seguranças brutamontes atrás dela diuturnamente até mesmo na universidade onde ela cursava matemática. Matemática… Era um parodoxo bacana! Pois Larissa amava mesmo era dançar, linda ela dançando! Então era dança por amor e matemática por labor pois em algum tempo ela teria que ajudar a administrar o patrimônio da família, que parecia não ser pequeno nem pouca coisa.
Larissa cogitava casamento, nem que fosse fugindo para o exterior, e olha que menina inteligente, além de bonita e fogosa. Que Deus a guarde! Encontramo-nos muitas vezes e nesses encontros às ocultas ela jurava-me amor e dizia aprender muito comigo. Entre carícias dizia-me que eu era o primeiro homem da sua vida.

— Calma — redargui — você teve um namorado, o Advogado, antes de mim, e seria difícil dizer que uma garota de 18 anos já não tenha ido às vias de fato, você me entende…

— Claro, mas ele não me fez mulher, não como você me faz, o que importa é que para mim e para o meu corpo você é o primeiro, e talvez o único que me faz sentir desse jeito. Ei, e a respeito daquilo que você andou publicando numa rede minha madre quer falar com você. Eu peço que não a procure, que não fale com ela. Ela respondeu à postagem discordando de você; é o jeito dela pensar não ligue, deixa pra lá vamos cuidar de nós. Promete que não a procurará?

— É direito dela não concordar comigo, nem eu mesmo concordo comigo mesmo às vezes (risos). Mas o que há de mal em respondê-la?

— Tudo bem, mas prefiro que não vá.

Larissa termina de falar e fica ensimesmada, notadamente contrariada com minha decisão. Ficamos por ali por mais um tempo

Larissa gemia, gritava, pedia para pegá-la forte e por trás.

— Ah! Eu te amo tanto! Não sei como você consegue deixar-me assim. Sinceramente eu não conhecia este meu lado.

À noite fui ter com sua mãe. Meu Deus o que era aquilo?!… Que mulher!

Boa noite! Eu sou o autor da publicação que você pelo visto parece não ter gostado. Então nos apresentamos e a mulher logo de início já estava com pedras nas mãos. Criticou-me, falou de seu ponto de discordância e ali estava a olhar-me atentamente. Expliquei-me como devia lançando mão de alguns preceitos filosóficos até ali válidos para mim e no fim, nos entendemos muito bem. Era notório até para um cego dos dois olhos que nos observávamos muito amiúde. Despedi-me, sob um enorme esforço, e bati em retirada.

Foi aí que conheci Cassandra. Não demorou muito até que ela me telefonasse para o champanhe na banheira. Desde então não deixamos mais de nos falar. Um dia… Um dia normal sabe… Um dia daqueles que amanhece ainda na parte da manhã, ou que não era muito natural para o meu grau de boemia. Nesse dia recebo uma ligação, era Cassandra dizendo que sobre sua mesa encontrava-se uma papelada para a agilização de um passaporte em meu nome solicitado pela Larissa a um certo contato da família.

— Creio que você não tenha conhecimento disso. A pergunta é: você quer mesmo isso ou não? Se você não quer eu fecho tudo, se você quer eu deixo correr. Mas conhecendo a filha que tenho achei de bom tom consultá-lo antes.

— Fez muito bem sim. Eu não posso ir agora.

— É eu pensei nisso também, você deve ter sua história, compromissos e afazeres aqui e não daria para abandonar tudo de uma hora para outra.

— Tem certeza que é para mim o passaporte?

— Está aqui com todas as letras: Marco Antônio Vilaça, não é o seu nome?

Larissa e eu chegamos a falar sobre a possibilidade de irmos para o exterior, pois lá ela não seria tão vigiada, mas fora só uma conversa aparentemente fantasiosa. Então ao encontrá-la falei-lhe do ocorrido, ao que ela respondeu:

— Sim eu estou sabendo e sei também que você disse à Cassandra não poder ir.

— Por que você não falou que ia fazer isso?

— Mas nós conversamos sobre o assunto, não lembra?

— Sim, mas da possibilidade, como algo remoto.

— Então, é uma possibilidade que aproveitei explorar já que meu avô tem uns contatos na embaixada. Eu só não imaginei que Cassandra tivesse informantes por lá também.

Ficamos por ali mais um tempo fazendo aquilo que sempre fazemos, o melhor que fazemos nesses curtos momentos em que estamos juntos: amor.

Enquanto ela se despe dançando pra mim a observo com sofreguidão, quanta beleza e suavidade! Pele macia e tez morena, formas arredondadas e graciosas, cabelos negros e olhos castanhos escuros! Seu jeito de menina travêssa oculta uma força de fêmea que sabe o que quer e não mede esforços para conseguí-lo. Ela senta-se em meu colo e sua boca faminta encaixa-se feito rosa e caule. Ela vai gingando devagar, descendo, descendo… Atira sua volumosa cabeleira deitando a cabeça para trás. Seus seios frutos sazonados de primavera tão doces em meus lábios.

Olho pra ela agora sob a meia luz âmbar do abajour e ela dorme nua e sem tempo, pernas levemente afastadas emanando ondas de calor tecendo a noite que se avizinha. Beijei seus lábios carnudos e a chamei suavemente.

— Ai Marco quando é que poderemos anoitecer e amanhecer juntos? Agora vou embora e você fica aí… Sozinho? Será? Um homem como você nunca fica só, e nem me olhe assim que eu sei como elas são e sei ainda mais como você é! — diz fazendo dengo.

— Eu te entendo e sinto a mesma coisa, mas temos muita sorte e amigos que nos ajudam a despistá-los. Mas penso que não teremos a mesma sorte por muito tempo.

— É por isso que estou procurando uma maneira de mudar-mos essa situação; e quando eu quero eu quero e sem enrolação. Mas não se preocupe meu amor eu ainda vou arrumar um jeito.

Toca o telefone, uma voz baixa e suave invade-me o ouvido:

— Precisamos muito conversar, você pode falar comigo? — Diz Cassandra num tom de algodão.

— Sim pode falar. Algum problema?

— Depende do ponto de vista. Mas não pode ser por telefone não.

— Está certo, o que você sugere então?

— Que a gente se encontre num lugar com um bom vinho e uma boa música, o que você acha? Eu só não posso ir a qualquer lugar, vou pensar em algo depois te aviso. Desta vez não iremos discutir (risos).

Fui até o hotel onde Cassandra escolhera receber-me. Ela estava pronta para o ataque, vestia uma langerie leve, semitransparente. O vinho dos melhores sobre uma mesa de vidro, uma cama enorme. Abriu a porta e quase sem olhar-me atirou-se em meus braços puxando-me para dentro. A segurei forte pelos braços e a encostei contra a porta que se fechava. Um beijo molhado, demorado, molhado, furioso, faminto, molhado, eterno. A respiração ofegante, a falta de ar, os suspiros que brotavam de dentro em nuvens de um desejo vermelho infinito. O tesão espraiava-se pelo corpo todo onde as palavras emudecidas jaziam no tremor. Nos olhamos olhos nos olhos dos olhos onde não havia tempo, não havia chão, tudo parou ao redor. Passamos a noite desnorteados e sem a mínima noção de onde estávamos, gememos, gritamos, nos amamos, nos batemos e nos arranhamos… Entre sussurros surdos e beijos cruéis nos entramos um ao outro entrelaçados. Pela manhã, ali nos encontrávamos ainda um dentro do outro, nos residindo entre espasmos elétricos, cansados mas felizes e inseparáveis ainda por um bom tempo.

Continua…

luizbucalon

Luiz Carlos Bucalon, nasceu em 12 de março de 1964, na cidade de Maringá-Pr. Em 1980, lançou, em edição independente, o seu primeiro livro de poemas, "Câncer Amigo". Seguiu escrevendo poemas, crônicas, contos, ensaios, teatro, humor, biobibliografias e romance. Foram trinta e quatro títulos publicados, pelo então poeta marginal -- contemporâneo a Paulo Leminnski e outros expoentes. Bucalon, além de escritor e editor, foi também declamador, palestrante e divulgador de sua própria obra, de cidade em cidade, no Brasil e na Argentina. Seu mais recente livro, "Só Dói Quando Respiro", de poemas, é de 2021, publicado digitalmente em formato e-book. Obras (muitas também em espanhol) - Poemas: Câncer Amigo, A Palavra é um Ser Vivo, A Corsária e o Vento Santo, Roda Viva, Madá Madalena, Novas Asas, Um Lapso no Tempo, Uma que não vejo, Outra que não toco, Poema a Quatro Mãos (com Nice Vasconcelos), Escrever é coisa de louco, Bailarina Madrugada, Poeta de Ruas e Bares, Poemarte, Na Barra de Santos, Era eu naquele quadro, A Rosa e o Espinho, Dia Noite e Chuva Por onde Andaluzia, Poeta Cigano, Rodoviárias São Corredores, A poesia diz rimada, Poesia Presa no Espelho, Poema se faz ao poemar Poesia líquida é música. - Romance, conto, teatro, ensaio, crônica: Em Busca do Amor, Lânguida e Felina, O Globalicídio Brasileiro, A Semente do Milagre, Mártires da Imortalidade, A vida entre outras coisas, A Praça da República, O Banco da Praça, Ali Naquele Bar. Saiba na página Home.

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