Casa do Poeta

Uma Vida em Quarenta Dias

Capítulo I – Segunda Parte

Confrontando traumas e revelando segredos

A Espera Angustiante: Um Capítulo de Amor e Preocupação

Uma mulher alta e esbelta se aproxima do balcão, com seus longos cabelos castanho-claros emoldurando um olhar angustiado e um tom impaciente ao conversar com a tendente atrás do vidro:

— Eu preciso ver meu marido agora. Ele foi trazido de ambulância – disse Martina, segurando a pedra há do colar e tentando manter a serenidade.

– Claro, senhora. Um momento, por favor – respondeu a atendente, digitando rapidamente no computador.

– Qual é o nome dele? – perguntou, olhando para cima com os dedos ainda no teclado.

O olhar da funcionária carregava uma calma que parecia ter esquecido o peso da urgência, como um mar sereno ignorando a tempestade que se formava à sua volta. Para ela, aquele caso era apenas mais um entre muitos, um eco distante na correria do hospital.

– Lázaro. Lázaro Luiz Conde. Martina respondeu, sentindo a ansiedade crescer ao ouvir o murmúrio da espera ao fundo e o cheiro do suspense refletido nos rostos.

– Aqui está. Ele está na UTI, no quinto andar. Você pode seguir por aquele corredor e subir pelo elevador – indicou a atendente num sorriso artificialmente reconfortante, como uma máscara sobre a realidade do hospital.

No elevador, o trajeto do térreo ao quinto andar parecia interminável a Martina. O número de andares desfilando lentamente à sua frente, como um relógio que não quer avançar. Assim que as portas se abrem, ela caminha devagar até o fim do corredor, cada passo ecoando em sua mente intensamente.

Ao abrir a porta, encontrou os olhos perdidos de Lázaro, afundados na sombra das espessas sobrancelhas. A tensão no ar parecia pesar mais a cada passo que ela dava em direção ao leito de Lázaro.

A enfermeira, ao notar sua presença, fez um gesto delicado. Ela assentiu imobilizada, o olhar perdido, ainda sem compreender muito bem o que se passava. Sentiu um suor frio, a roupa colava-se à pele por baixo do avental.

— Ele está estável, mas precisamos monitorá-lo de perto — disse a enfermeira em voz baixa, enquanto ajustava os aparelhos ao redor da cama.

— O que ele tem? – Perguntou Martina, tentando manter a voz firme, como se estivesse à porta da morte.

— Ainda estamos investigando. O doutor Jacob está reunido com o neurologista e deve chegar em breve para lhe explicar melhor — respondeu à enfermeira, lançando um olhar compreensivo para Martina.

Com as palavras da enfermeira ainda ecoando em sua mente, Martina deu um passo hesitante em direção à cama. Seu coração pulsava forte, cada batida como um lembrete do que estava em jogo.
As enfermeiras se afastam, ela se aproxima da cama, seus olhos vertem lágrimas que se cristalizam no rosto. Temerosa, passa um rápido olhar sobre o corpo do homem, leva as mãos aos próprios lábios e estremece.

O que de fato acontecera com ele naquela manhã à biblioteca?

O som de máquinas bipando e passos apressados no corredor contrasta com a quietude densa de seus pensamentos. Arruma a toca sobre os cabelos. Olha para Lázaro, ali inerte. O coração dispara ao beijar a face dele. O toque de sua mão fria trouxe uma onda de memórias à qual Martina não pôde controlar. Era como se cada detalhe da vida que tinham construído juntos estivesse sendo reescrito em sua mente.

A situação me atingia com uma força inesperada, como uma onda quebrando na praia. Meu coração, antes tranquilo, agora batia em um compasso diferente, acelerado por algo que não sentia há muito tempo. Parecia que o tempo havia realizado um ciclo completo, trazendo-me de volta ao início de tudo.

Lembro-me de quando o vi pela primeira vez, naquele presídio. O olhar de Lázaro estava perdido. Sua voz revelava uma vontade de mudar, de se agarrar à vida de mãos cheias. Sem perceber, eu fui tocada por aquilo. Anos depois, eu estava lá no lançamento do seu primeiro livro, observando-o de longe, vendo o homem à minha frente em uma versão transformada. Quase irreconhecível, mas com o mesmo brilho. Mais um tempo se passou, e nos reencontramos na sua formatura. Lázaro estava radiante, com um sorriso que transbordava conquista. Mas foi apenas depois que nossos caminhos, enfim, se cruzaram definitivamente.

Agora, ao vê-lo tão perto, sinto a magnitude de nossos encontros e desencontros passados. Coincidência ou não, hoje estou com a mesma camiseta do Outubro Rosa que usava há dois anos quando voltamos a nos conectar tão decisivamente pelo olhar.

As lembranças lentamente se dissiparam quando a realidade voltou a envolvê-la. O peso do presente a puxava de volta, afastando-a dos momentos que tanto queria reviver. Discretamente, Martina limpa o rosto e sai em silêncio, ignorando os médicos, enfermeiros e visitantes que se movem pelos corredores.

Vozes abafadas se misturam com o bip contínuo dos monitores cardíacos, criando um som distante e perturbador. A luz fluorescente fria reflete nas paredes brancas, deixando o ambiente ainda mais gelado. O cheiro forte de doença e a sombra da morte iminente pesam em sua respiração, que já está cansada e pesada. A cada passo, sente o peso de tudo ao redor[…]

Continua sábado que vem!

Análise:

O texto apresenta uma cena dramática e emocionante em um hospital, onde Martina busca informações sobre o estado de saúde de seu marido, Lázaro, que está na UTI. A narrativa explora temas de amor, preocupação, memórias e a luta contra a morte.

Perguntas ao Leitor:

— Como você interpreta a relação entre Martina e Lázaro?
— Qual é o papel das memórias na construção da relação entre os personagens?
— Como a obra reflete a experiência de enfrentar a morte de um ente querido?
— Lendo até aqui, o que você colocaria ou tiraria para melhorar o texto e sua fluidez?

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Nasci em Maringá-Pr., no dia 12 de março de 1964. Em 1980 publiquei o primeiro livro, Câncer Amigo e em 2021 o trigésimo quinto publicado digitalmente em formato e-book.

18 Comentários

  • Francisco

    Passa a sensação de uma relação de confiança, de vidas que realmente se encontram para ficarem juntas, as memórias só confirma. Sobre o capítulo, é um ensaio de apresentação da narrativa, interessante.

    • Myriam Britto

      A história instiga o leitor a compreender o que de fato motivou o relacionamento.
      O aspecto relatado de terem se encontrado num presídio poderia ser mais detalhado.
      Parece uma relação de dependência emocional e busca de solução de conflitos vividos sob grande tensão.

      • Luiz Bucalon

        Pois então! Tudo isso em breve virá à tona em doses homeopáticas. O Lázaro será conhecido desde a infância através de flashbacks. A história pretende ser circular: começa no fim e retorna ao fim. Muito obrigado por nos acompanhar! Abraços!

  • Marcelo Varella

    Bom dia amigo! Essa relação entre os dois se parece muito com relações que vemos diariamente, cheias de idas e vindas. O que pra mim exprime um aura de realidade! Quanto as memórias, vejo como espelho para os acontecimentos futuros.
    Quanto a questão de lidar com a morte de pessoas próximas ou a probabilidade desta, é sempre delicado e difícil, variando de intensidade de indivíduo para indivíduo. Eu pessoalmente ainda carrego cicatrizes dessas perdas. Pra mim a narrativa continua ótima. Abraços!!!

  • Simone Gonçalves

    Me passa um tipo de relação em que no início, houve certos conflitos e desencontros mas sempre com a certeza que se apaixonaram logo num primeiro olhar.
    Acho que pode colocar mais detalhes das lembranças que ela carrega e trás à tona naquele momento…

  • Victoria Jose De Castro Polati

    Estou apaixonada pela maneira
    Como você escreve essa fassinante
    História, que se percebe existiu amor
    Entre os dois personagens!
    Mas um acontecimento conflitante,
    Abalou a relação! Espero ansiosa,
    O próximo capítulo, senhor fantástico
    Éscritor ! Parabéns!

  • GEDIEL PINHEIRO DE SOUSA

    Aqui na segunda parte o suspense continua sobre os motivos que levaram Lázaro à UTI…entra em cena uma mulher que também é uma incógnita até o presente momento e alguns flashbacks sobre a relação dos dois…em síntese o suspense continua…

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